sábado, 28 de agosto de 2004

Como vivem as pessoas versus aquilo que as pessoas pensam delas

As pessoas que vivem por estas aldeias não falam português, não sabem o que foi a colonização, nunca viram um português ou mesmo um branco, nunca viram televisão, nunca ouviram rádio e vivem tal e qual como há 2000 anos atrás, com excepção de que há 2000 anos atrás tinham que se esforçar para comer, e agora dá-lhes o PAM (Programa Alimentar Mundial).

É preciso não esquecer que a esperança média de vida daqui é de 40 anos, o que quer dizer que, na melhor das hipóteses as pessoas que conheceram o período colonial, conheceram-no até aos 10 anos de idade. Essas pessoas, que viviam como os bancos ou que pelo menos conheciam a civilização, não ficaram nas aldeias ou cidades onde o conflito foi mesmo agreste, como é o caso de toda a província do Huambo e da parte rural da de Benguela. Foram ou para Portugal ou para as cidades que não tiveram guerra: Benguela, Lubango e Luanda principalmente. Essas pessoas vivem em cidades decentes, dentro das possibilidades que a guerra permitiu.

O Lubango é espectacular! Benguela está linda! Acho que a vida nessas cidades actualmente se assemelha muito à vida em Portugal nos anos 80. Claro que há um retrocesso enorme, porque provavelmente a vida em Angola nos anos 70 seria semelhante quase à vida actual em Portugal (bom, não havia telemóveis, mas havia tudo o resto que no Portugal profundo só agora se começa a ter, como abastecimento de água, saneamento, luz eléctrica…). Digo isto porque eu morei até aos 7 anos numa casa sem água canalizada numa aldeia perto de Coimbra, onde se tomava banho numa bacia e eu carregava água da fonte, e isso foi só há 20 anos!

Mas porque é que o Huambo está tão mal então? No período colonial o Huambo e Benguela eram as províncias mais prósperas. Para além disso, especialmente o Huambo, era o grande bastião da UNITA. Assim, o MPLA morre de medo de que o Huambo se torne de novo numa grande cidade. Assim, o esforço em melhorar a vida do pessoal daqui é incrivelmente menor que no resto de Angola, não vão as pessoas daqui ter possibilidade de subir ao poder. Aqui a política aqui é uma luta tribal, nitidamente! Claro que também é só preciso fazer o estritamente necessário para que o povo pense que se faz alguma coisa, apenas para poder ganhar as próximas eleições. Porque esforço, esforço, melhorias, melhorias, não se fazem. Aprenderam bem com os Tugas!

1 comentário:

Anónimo disse...

Há cada coincidência... Ora, acabada de chegar de Angola, já saudosa, faço uma breve pesquisa e venho parar a este blogue.. Qual não é o meu espanto q aqui até se fala na aldeia vizinha, onde fiz 1 ano de escola primária, incrível..:)
estou a adorar cada post..
Cumprimentos