segunda-feira, 23 de maio de 2005

Notícias da república das bananas

Vim ontem dessa linda República das Bananas Portuguesa, vulgo Ilha da Madeira.

Já lá tinha estado há 12 anos e as diferenças são enormes! Muito mais casas, muito mais túneis e o desenvolvimento sente-se por todo o lado. Segundo pude apurar em fontes fidedignas (não vi no INE, mas acredito), a Madeira tem +- 300.000 habitantes. Dá a impressão de ter umas 600.000casas, ou mansões, melhor dizendo. Devem ser as casas dos emigrantes, só pode.

Passei a semana a dar a volta à ilha e só cheguei ao Funchal depois de 5 dias a passear pela costa Norte da Ilha e a andar (literalmente, a fazer caminhadas) pelo interior esquecido e ostracisado da Madeira. E a pergunta que se impõe é: aquele pessoal da Costa Norte vive de quê? (João Gonçalves, explica-me!). O Funchal é uma nação, super animado e com gente bonita e fashion por todo o lado. Até pensei que estivesse a haver um gigantesco casamento tal era o grau de produção de toda a gente! Foi cá uma lufada de ar fresco! Agora a descrição pormenorizada, para quem aguentar:

Fui para a Madeira 1 semaninha de férias com a Kikas (quem não conhece veja nas fotos!), depois de alguns adiamentos, atribulações e remarcações de viagem. A intenção era fazer caminhadas pelos picos e pelas levadas daquela linda ilha, da qual eu tinha uma imagem de há 12 anos muito mais selvagem do que agora é. Chegadas ao aeroporto de Santa Catarina começamos a volta à ilha em 8 dias como se fosse uma rotunda, isto é, começando pelo Machico. Aí fiquei numa das residenciais mais ranhosas de sempre, para além de caríssima (não, Hugo e João, não tão má como a da Covilhã, mas quase!). No Machico devem ter feito um acordo de cavalheiros no preço das residenciais, hotéis e pensões, tudo ao mesmo preço. Escolhemos a que pareceu menos mal, mas era uma bela porcaria. Colchas de cetim florido, sem toalheiros nem tampa na sanita...só lhe faltava o bidé no meio do quarto! Felizmente o restaurante em baixo não era mau de todo! Logo no dia em que chegámos, tentámos seguir o fantástico Guia dos Passeios a Pé - Veredas e Levadas (adiante referido como Guia) para chegar ao Caniçal e depois, quem sabe, à Ponta de S. Lourenço. Claro que o Guia se revelou pela primeira vez um bocado complicado de seguir, e como já era tarde, depois de uns arranhões, de ver um lindo mar azul turquesa (ver foto) e depois de subir ao Pico do Facho, voltamos para trás para o Machico. No dia seguinte fomos para Santana. Daí supostamente começavam as melhores caminhadas. Pela primeira vez encontrámos alguém simpático que se entusiasmou com a nossa ideia das caminhadas: a senhora do posto de turismo! Nesse dia fomos até S. Jorge a pé. Estavamos a pensar em voltar também apé, depois de termos pensado que tinhamos perdido o último autocarro nessa direcção (às 16:30!), mas eis se não quando aparece um, iamos nós pela estrada, já quase noite! Grande sorte, porque nos poupou uns 20 km pela estrada de alcatrão noite fora! Dormimos em mais um sítio que alugava uns quartos, mas parecia que era só gente louca por lá. Os donos da casa bateram-nos à porta do quarto (e à porta do banho, no caso da Kikas!) por5 vezes! Há anos que não tinha tantas visitas! No dia seguinte pensavamos que nos esperava a grande ida ao Caldeirão do Inferno. Nessa noite choveu torrencialmente e na manhã seguinte estava um tempo horrível. Desistimos da ideia e resolvemos ir à procura do bom tempo para o outro lado da ilha. Resolvemos ir para Porto Moniz para ficarmos mais perto da levada da Ribeira da Janela. Saimos logo de manhã para Arco de S. Vicente, onde nos aguardava uma espera de 2 horas pelo autocarro de uma outra companhia de transportes. A próxima paragem era em S. Vicente. Saímos do autocarro, o autocarro partiu e eu reparei que me tinha esquecido da minha mochila pequena lá dentro, com documentos, carteira e telemóvel. Como lá os autocarros vão a becos sem saída e voltam para trás, conseguia panhar o autocarro de novo e recuperar a minha mochila. E quantas mais horas de espera? 6! 6 horas à espera de outro autocarro de outra companhia. Felizmente havia umas grutas para visitar e lá fomos. Às 18 horas lá partimos para Porto Moniz. Chegamos por volta das 19 à pousada da juventude, que estava fechada, com a indicação de que abria às 21 de novo. Esperámos, e por volta das 20 entrou um rapaz, que nos diz que tinhamos que ter reserva do Funchal para entrar. Acabamos por ficar num quartinho alugado, muito simpático, finalmente. Graças à dona da casa conseguimos finalmente encontrar a nossa primeira levada a sério, a Ribeira da Janela! Este foi o passeio mais espectacular da viagem, embrenhadas na floresta laurissilva, patrimónimo mundial! Foi excelente! Claro que as pilhas da minha máquina fotográfica, que tiram 10 cartões cheios, tinham que pifar nessa altura! Obviamente! Felizmente não tinha torradas com manteiga, senão, já sabem como cairiam ao chão! No mesmo dia do passeio conseguimos apanhar um autocarro para a Calheta. Depois do que tinha acontecido na pousada da juventude anterior, telefonámos para a pousada da Madeira. Lá nos disseram que podiamos ficar, mas claro que essa pousada não tinha fechado às 18 como a outra, mas às 17:30 e nós chegámos às 17:45. Pensamos que nos aguardava uma enorme espera, mas um rapaz simpático veio abrir-nos a porta, mostrar-nos o centro da Calheta, levar-nos ao Pingo Doce, vir connosco de novo à pousada para pormos as coisas no frigorífico e levar-nos de novo para o centro para vermos o jogo de futebol enquanto jantávamos (SPOOOORTING!) Apesar do meu entusiasmo, não deu em nada e lá se foi a taça UEFA. Aguardava-nos +- 1 hora de caminhada para a pousada (era o café mais próximo!), mas eis se não quando o rapaz simpático apareceu mais uma vez para nos dar boleia! O que não faz duas raparigas sozinhas e simpáticas em apuros! No dia seguinte lá fomos para mais uma levada. Depois da do dia anterior, esta foi mais fraquinha, mas tinha as cascatas do Rabaçal e das 25 Fontes, muito giras por sinal! Nesse dia ficamos com mais uns 30 km nas pernas, 10 deles no alcatrão quente, o que não foi agradável. Desta vez nem a nossa insistência de polegar esticado nos valeu. Nesse mesmo dia fomos para o Funchal. No dia seguinte iriamos de Ribeiro Frio a Portela, mas como era só uma caminhada de 4 horas, decidimos fazer também do Poiso ao Ribeiro Frio. Perdemo-nos miseravelmente, tivemos que voltar tudo para trás a subir por uma descida que nos tinha custado horrores a descer... Já não tinhamos tempo de fazer a caminhada até ao anoitecer e voltamos para Poiso. Chegamos às 14 e o próximo autocarro era às 18:30... Buáááá! Esticámos o dedo e conseguimos boleia para perto do Funchal (para Monte). Nessa noite fomos com os meus tios e primos (que vivem no Funchal) comer uma fantástica espetada ao Estreito de Câmara de Lobos e comer bolo da madeira feito pela minha tia antes do Natal (sim, o bolo tinha 5 meses!) a casa dela! Uma delícia, ambas as coisas! No dia seguinte aguardava-nos a caminhada só para "experts" do Pico do Areeiro ao Pico Ruivo (ponto mais alto da ilha) e depois descida para Curral das Freiras! Que ingenuidade! Bom, lá fomos para o Pico do Areeiro de boleia do meu tio e iniciámos a caminhada, nós e os 10.000 turistas e respectivos guias diplomados de montanha. Toda a gente ia super equipada com botas de montanha, batons e etc, para andar pelo caminho empedrado! Bom, hilariante! Aquilo não tinha que enganar, com o caminho praticamente todo empedrado e com guias de arame. Chegadas ao Pico Ruivo tentámos mais uma vez perceber o Guia, mas com indicações tão vagas como "siga na direcção da Encumeada e depois de meia hora vire à esquerda" resolvemos perguntar se o caminho para o Curral das Freiras estava indicado. Os guias diplomados quase nos batiam, para não irmos, que não conheciam o caminho e não sabiam onde é que se virava. Resolvemos não arriscar uma como no dia anterior, mas frustradíssimas. Lá fomos para Achada do Teixeira por praticamente uma auto-estrada que até dava para ir de salto alto agulha... Enfim. Mais uma aventura para arranjar transporte daí para Santana e felizmente apenas uma hora e meia de espera do autocarro para o Funchal. Chegamos a horas para um jantar de espada delicioso, uma poncha regional em Câmara de Lobos e 2horas de seca à espera das 2 da manhã, uma vez que a pousada à noite só abria de2 em 2 horas após a meia noite! Enfim, como se comprova, quem quer ir para a Madeira e não quer ensandecer ou alugar um carro para fazer caminhadas de ida e volta (sempre mais aborrecidas), tem que carregar, para além do corta vento, do polar, do lanche e da água, ainda uma boa dose de paciência para esperar, esperar e esperar mais um bocadinho! Mas tenho a dizer que não só recomendo vivamente como as Viagens Banha da Cobra se encarregarão de organizar mais uma viagem à Madeira para daqui a uns tempos. Eu sei que ninguém leu até aqui, masquem leu pode fazer já a sua pré inscrição, com indicação do dinheiro que está disposto a gastar para além dos 40 continhos na viagem e do mês e ano preferido para melhor corresponder às espectativas dos candidatos. Na próxima viagem prometo que levo as cartas militares 1/25.000 e como sabem, sou especialista em orientação, não há que enganar! Com tantas aventuras, o que tinha sabido bem não tinha sido vir para o Continente e começar a trabalhar (para quem não sabe, trabalho na Procesl pela 3a vez, de novo em Portugal Continental, lá para os lados de Sintra, a 36 km de minha casa no Laranjeiro-Almada). Bom tinha sido passar 15 dias nas palhinhas deitada, mas palhinhas estendida como o menino jesus, mas em vez de ser em Belém, nas belas areias douradas de Porto Santo. Quem sabe prá próxima!