segunda-feira, 29 de maio de 2006

Cabo-verde, cabo-verde…

O que é que Cabo-verde tem de especial?! Boa gente e boa comida, sendo-se positivista…



Alguém me disse que eu ia achar Cabo-verde sem piada depois de ter estado em Angola. A expressão menos depreciativa que encontro para definir este país é: SENSABORÃO.

Se Cabo-verde devia chocar por ser em África, não me chocou. Se a ilha do Sal devia ser uma ilha paradisíaca de praias maravilhosas, não achei. Se a ilha de Santiago devia ser a mais tipicamente africana, imagino como serão as outras. Se a Cidade da Praia se devia parecer com a capital de um país, os poucos habitantes fazem dela uma pequena cidade, com um aeroporto novo e decente, 2 hotéis, alguns restaurantes e pouco mais, sem ser bonita, sem ser feia, sem ser organizada, sem ser desorganizada… Enfim, achei-a uma capital sem carisma.

Cerejinhas atrás de cerejinhas no topo do bolo de chantilly

Cerejinha no topo do bolo após cerejinha no topo do bolo, fomos enchendo um bolo de chantilly:

Cereja 1: marcação da viagem atribulada
Cereja 2: hotel sinistro na Ilha do Sal
Cereja 3: tempestade de vento e frio na Ilha do Sal quando era suposto irmos lagartar ao sol
Cereja 4: noite de domingo para segunda, passada na casa de banho (Cristina) e na cama sem conseguir dormir (Ana) já na Cidade da Praia
Cereja 5: médico rouba o termómetro na 5ª feira. Felizmente não tornou a ser preciso!
Cereja 6: 6ª feira passada no Plateu a tentar reservar um voo para a Ilha do Fogo (não havia lugares, mas houve desistências, viemos a perceber porquê na cereja nº 7)
Cereja nº 7: 6ª à noite saber que havia um problema com um avião da TACV e que provavelmente o voo tão desejado para a ilha do Fogo iria atrasar quando tentámos sem sucesso fazer check-in telefónico (os nossos nomes ainda não estavam na lista de reservas)
Cereja 8: Sábado sair do hotel, depois de dormir 4 horitas (pronto, confesso, fomos sair à noite) e tomar o pequeno-almoço à pressa para fazer o check-in, perguntar se o avião sempre ia atrasar, dizerem-nos que não, esperar pela hora de embarque, hora e meia depois e ouvir “Atenção senhores passageiros, o voo nº XXXXX com destino à ilha do Fogo está atrasado, com partida prevista para as 12:45”. Era só daí a 3 horas e 15 minutos… Um avião da TACV avariado fazia com que não houvesse garantia de voos entre ilhas já há 2 dias, havendo pessoas a passar a noite em hotéis, pagos pela TACV. Considerando que a hora marcada para a volta da ilha do Fogo e a hora do meu regresso para Portugal diferiam de apenas 13 horas, achámos que este seria um atraso perfeitamente normal para se ter e haveria fortes probabilidades de não ser possível apanhar o voo de regresso. Ter que desistir da viagem e pedir a devolução do dinheiro, depois de tanto esperar por ela, foi para mim a parte mais dura desta viagem.
Cereja 9: Depois da desilusão, voltámos para o hotel na perspectiva de nos imiscuirmos numas excursões de autocarro pela ilha, que supostamente só se realizavam ao fim de semana. A 1 hora da partida da excursão, pedimos no hotel que nos ligassem para a agência a perguntar se ainda havia lugares. Claro que não havia.
Cereja 10: Recusámos durante a semana todos os convites para passear pela ilha dos colegas do INE da Cristina. Não fomos à Ilha do Fogo como previsto, não fomos na excursão e não conseguimos combinar nada com os colegas dela no fim de semana…
Cereja 11: O meu voo de regresso atrasou 1 hora graças às pessoas que resolveram levar produtos perigosos na bagagem de porão e que tiveram que ser chamados à hora de embarque…

Até estranhei ter encontrado o carro nos Olivais onde o tinha deixado e a casa intacta! Ainda pensei que chegasse à dúzia de cerejas estas férias!

Um médico à maneira

Depois de alguns dias que passei entre fazer de bá-bá da Cristina e umas voltas pelo Plateau (Ilha de Santiago, Cidade da Praia), a Cristina lá se decidiu a chamar um médico ao hotel. O médico foi super atencioso, receitou-lhe finalmente um antibiótico e no dia seguinte ela já estava quase boa. Foi pena é que pela consulta tenha levado 5000$ de Caldo-verde (50 euros, mais ou menos) e um termómetro, que tínhamos comprado na 2ª feira. Deve tê-lo levado na confiança de que a Cristina não ia voltar a precisar dele!

Cooperação

Há inúmeros vestígios de projectos de cooperação com Cabo Verde por todo o lado. Placas que ficam em sítios estratégicos identificam diversos projectos, especialmente de recuperação do património construído. E quem é que a faz?! Os espanhois, os italianos... Será que os Portugueses não cooperam ou simplesmente não fazem publicidade?

O forte de D. Filipe

E quem é que será o D. Filipe?! Poise, rei D. Filipe I de Portugal, II de Espanha. Devidamente recuperado pela Cooperação Espanhola, defendia a Cidade Velha e tem alguma piada. Até os edifícios recuperados em Cab-verde têm que ter origem em Espanha, bolas!

A Cidade Velha



A Cidade Velha da ilha de Santiago foi a primeira cidade a nascer e onde foi construída a primeira igreja por portugueses fora de Portugal Continental. Fica no vale de um rio torrencial e é uma espécie de oásis no meio do deserto que é a ilha. Já vi coisas piores.


segunda-feira, 22 de maio de 2006

Cristina Off

Poisé, poisé, a menina Cristina está com uma gastroenterite que, segundo a última leitura, lhe está a dar 39,8 graus de febre. E agora o que é que eu faço?! Escrevo…

Salinas


As salinas são assim… não sei bem como dizer… umas salinas, pronto! Tem piada por se situarem supostamente numa cratera de um vulcão (passamos por um túnel para lá chegar). Apesar do formato do terreno, a mim custa-me um bocadinho a acreditar que aquilo seja mesmo a cratera de um vulcão. Tem piada porque o mar se infiltra por baixo, a água salgada seca e deixa o sal no fundo. Há quem tome lá banho. Desconfio que aquilo seja como o mar vermelho, em que se a água é tão densa de sal que o pessoal quase podia caminhar sobre a água! É, sem dúvida, o sítio mais interessante daquela ilha!

Buracona


Sim, existe um sítio com este nome na Ilha do Sal. É uma daquelas coisas que tínhamos mesmo que ver, até porque aparentemente não há mesmo muito mais para ver na Ilha do Sal. Pronto, é uma espécie de Boca do Inferno, mas em pequenino… Mas o que seríamos nós se não déssemos a ganhar algum a alguém da ilha para nos levar lá… Valeu pela paisagem até lá, completamente lunar!

“Tens filhos?”

A típica pergunta africana mantém-se em Cabo Verde. Felizmente que o espanto pela resposta não é tão grande como em Angola

“dão-me um pouco de água, por favor?”

Foi esta a abordagem escolhida por mais um vendedor de artesanato da praia de Santa Maria. Era cabo-verdiano, distinguido pela sua abordagem em português (e não em italiano ou francês) e pela maneira suave de o fazer. Demos uma garrafinha pequenina de água que tínhamos connosco. “Agora tenho que vos retribuir com uma pulseira”, uma para mim e uma para a Cristina. Não tivemos lata para dizer que não e não tivemos lata de não dar mais nada em troca. Ficámo-nos pelos 300$ de Cabo-verde, correspondentes a mais ou menos 3 euros.

“Os senegaleses não querem trabalhar”

Concluímos passado pouco tempo que a população de Santa Maria é maioritariamente constituída por estrangeiros. Não me refiro a turistas, mas às pessoas que decidiram ir morar para lá: bares de franceses, hotéis de italianos, imobiliárias de italianos, construtoras de italianos, hotéis de franceses, bares de italianos, lojas de italianos, gelatarias de italianos, lojas de senegaleses, restaurantes italianos e dezenas e dezenas de senegaleses a venderem artesanato na praia. Pode dizer-se que encontrámos 2 estabelecimentos que, se não eram pareciam ser, de cabo-verdianos, a deliciosa pastelaria Relax, com cuscus maravilhoso, almoços e jantares maravilhosos e um aspecto impecavelmente imaculado e a pensão Nha Terra, onde almoçámos duas vezes, uma das quais uma cachupa de chorar por mais. Espero que não tenha sido a cachupa que tenha feito com que a Cristina esteja agora com uma gastroenterite aqui ao meu lado no quarto de hotel a definhar. Pelo menos eu adorei e estou bem de saúde.
De facto a “fauna” cabo-verdiana era pouca, mas em conversa com 2 moços definitivamente percebemos porque é que passávamos o dia a ver senegaleses a vender nas praias.



Os dois tiveram a mesma conversa: “os senegaleses não querem trabalhar”! Ao princípio pode parecer estranho. Se havia coisa que eles faziam de sol a sol era vender artesanato na praia. Mas depois percebemos: ser comerciante (ainda por cima sendo ilegal a venda de artesanato na praia, já que eles fugiam à polícia com quantas pernas tinham), não é uma profissão. E os cabo-verdianos queriam ter uma profissão, como instalador de tectos falsos, por exemplo!

4 dias a comer areia

De 17 a 21/5 passámos os dias a comer areia, às vezes com as cadeiras de praia a fazer de pára-vento, mas sem muito sucesso. Lá fomos resistindo… Fizemos umas incursões à povoação de Santa Maria. Praticamente não se via vivalma, nem de dia nem à noite. Concluímos que devíamos ser as únicas turistas que se atreviam a sair do hotel. A noite de sábado foi um pouco mais animada, com o café Mendes com música típica de Cabo Verde ao vivo. Engraçado é que vinha na conta:

2 chás (estava mesmo um frio de rachar, só apetecia beber chá
2 music (referente ao facto de estarmos na esplanada com música ao vivo)

Férias relaxantes em Cabo-verde!

Chegámos ontem à noite à Cidade da Praia,



depois de 4 dias na Ilha do Sal, Praia de Santa Maria.

As peripécias foram mais que muitas até chegar aqui. A marcação da viagem teve tantos contornos que eu acho que já não consigo reproduzir totalmente:

Começou com a decisão se vinha ou não com a Cristina (ela veio trabalhar a partir de hoje para o INE de Cabo Verde), aproveitando-me da estadia dela no hotel maravilha aqui da Ilha de Santiago, pagando só a diferença do single para o duplo, passando antes 4 dias nas palhinhas deitada nas palhinhas estendida, tal menino Jesus na manjedoura, na praia de Santa Maria, Ilha do Sal.

Depois, foi a saga da marcação da viagem. Entre viagens, hotéis, quem marca o quê, em que agência, facturas, viagens minhas em trabalho para Ponte de Lima, NIB da agência incorrecto, telefonemas para cá e telefonemas para lá, acho que gastei o suficiente de dinheiro para passar um dia no hotel de 5* e a paciência de 1 ano. E a Cristina viu por diversas vezes a vida a andar para trás, comigo a dizer que ia e que não ia e que já ia outra vez… Nunca tive preparativos tão stressados!

Finalmente lá nos encontrámos no aeroporto de Lisboa à hora combinada na noite de 4ª feira dia 17 Só acreditei que vinha quando entrei no Boeing 757-200 da TACV, o avião mais confortável em que andei na vida! Recomendo vivamente! O voo foi normal e a aterragem a coisa mais suave deste mundo. Parecia que tínhamos aterrado num tufinho de algodão!

Meia-noite na Ilha do Sal, duas da manhã em Lisboa e nós sem a confirmação da reserva do hotel. Trocámos dinheiro, apanhámos um táxi para o hotel, que parecia ser no meio do nada, e o recepcionista não abriu a boca para emitir um som que seja. Abriu-nos a porta, dissemos que tínhamos uma reserva, deu-nos a chave do quarto, a chave do cofre e o comando da tv, sem emitir um som. A Cristina pediu ajuda com as malas, ele pegou na mais pequena e subiu. Lá fomos atrás dele, entrámos para o quarto, ele sumiu e fechou a porta. Felizmente o quarto tinha um ar simpático e limpo. Depois de o termos conseguido por metade do preço que a agência nos cobrava concluímos que até foi um bom negócio.

No dia seguinte, maravilhadas com a perspectiva da praia de água azul e areia branca, saltámos da cama cedo e fomos ao pequeno-almoço. A salinha era super agradável e de dia o hotel parecia muito menos assustador do que à noite. No entanto, lá fora a perspectiva era desoladora: um vento de fugir, a levantar areia, pó, quem sabe até mesmo nós próprias. Armámo-nos em camones e, mesmo assim, arriscámos a praia. Depois dos 35 graus do dia anterior em Lisboa foi um desconsolo constatar os 23 graus da praia de Santa Maria e o vento bom para o kitesurf e para o windsurf… Enfim, para praia, a Costa de Caparica serve perfeitamente. De nota só a cor do mar, realmente azul turquesa como se vê nos postais e a areia realmente branquinha, mas demasiado esvoaçante para o nosso gosto.