sábado, 2 de outubro de 2004

A vida melhora ou uma pessoa habitua-se?

A vida aqui vai bastante melhor. Já me habituei a:
8 horas de viagem todos os fins de semana
trabalhar todos os dias da semana, incluindo sábados e domingos
não ter carro, nem para trabalhar nem para me deslocar quando tal me foi prometido
trabalhar numa organização completamente desorganizada que ontem finalmente acordou para a necessidade de organização ou morte lenta e dolorosa
não ter electricidade
ter um quartinho interior, que serve também de escritório e sala de reuniões, quando me tinham prometido um palácio
ter que dar os bons dias de pijama a 50 trabalhadores no meu quintal quando vou à casa de banho de manhã
viver com o mau humor constante que o mephaquin ajuda a potenciar
gerir a economia doméstica
viver numa casa perfeitamente nojenta, a comer comida preparada de modo nojento, a não escolher a comida que como
dormir horas ímpares
acordar com o Henriques a gritar pelo Adelino
aturar o péssimo humor de fim de semana de todos os meus coleguinhas que vivem em casas, não em palhotas como eu
não conseguir fazer nada de jeito no fim de semana para além de ir à net ou sair à noite e dar em alcoólica como o resto do pessoal expatriado (já prometi não beber mais!)
As condições em que eu vivo são 300 vezes piores que as que alguma vez vivi, mesmo apesar de já ter que ter carregado muita água à cabeça quando morava numa aldeia chamada Campizes, perto de Coimbra até aos 7 anos. Imagino agora como os meus pais não se devem te sentido por terem que ter saído de uma casa mais ou menos, em Almada e pôr a família toda a viver numa casinha modesta de aldeia sem água e a por a filha a estudar numa escola primária com 9 alunos de todas as classes ao mesmo tempo.

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