domingo, 15 de abril de 2018

Procura de casa


Já tendo batido todos os sites do imobiliário e sabendo de cor todos os anúncios de casas em Rungis, resolvemos ir pessoalmente à imobiliária para ver se haveria algo que nos estaria a escapar. Infelizmente naquela terrinha tipo oásis no deserto do balineau de Paris não há mais nenhuma imobiliária e 90% dos anúncios estão com a que apelidei de “a imobiliária”.

Entrámos e a senhora faz aquele olhar de cima a baixo reprovador para o casal de pigmeus portugueses acabados de sair da gaiola dourada. Informa-nos que não tem tempo para nós porque está sozinha na agência e tem uma visita às 15h (daí a 50 minutos!). Pergunta-nos o que é que procuramos: preferência t2, com parqueamento coberto, condomínio barato e menos de 250k. Resposta seca dela: não existe! Pois nós, que já batemos tudo, sabemos que existe, mas se for para ela nos dizer que não existe não iríamos lá. 

A custo lá nos sugeriu para marcámos para no dia seguinte ver um apartamento de 250k que reunia todas as características. Afinal sempre existia. As fotos eram medonhas, aliás como todas as fotos de imobiliárias que se vêm aqui (felizmente algumas não se vê a sujidade, outras até isso se vê). Como ela nos despachou e a visita era só no dia seguinte, resolvemos ir ver a localização da casa. Era um R/C sem uma gracinha. Fotos tiradas de noite, casa toda partida por dentro… pelo preço de uma vivenda fantástica em Palmela. Mandámos um sms a dizer que nem queríamos ir ver. Fiquei com a sensação de que ela achava que como éramos portugueses estaríamos super interessados numa casa cara, toda partida, para poder realizar o sonho de fazer umas bricolages valentes, já que o nosso pai terá certamente uma empresa de construção civil e as fará de bom gosto (aguarda link para o post onde escreverei sobre este assunto).

2 dias depois caímos num anúncio da mesma imobiliária, telefonámos: “Ah, Monsieur Monteiro!”. Fomos ver a casa e o Monsieur Monteiro atrasou-se o que me fez ficar uns 3 minutos sozinha com a megera. Cada vez que se aproximava uma carrinha branca ela perguntava se era o meu marido. Não obstante, quando se aproximava um carro normal ela não tinha dúvidas que não era o meu marido. Até que ela lá foi abrindo a porta e não viu o Monsieur Monteiro a chegar na sua viatura vistosa.
Vimos a casa. Era jeitosa, apesar de não ter lavatório no compartimento separado da sanita e ser preciso atravessar 3 divisões até poder lavar as mãos, coisa infelizmente vulgar nestas paragens. Após observação, certamente a primeira na carreira da agente, lá lhe foge a boca para o pensamento e pergunta se não somos bons bricoleiros, porque normalmente os portugueses o são, que podíamos perfeitamente instalar ali um lavatório partindo umas paredes… enfim...
A casa era melhor do que as horríveis fotos demonstravam. Segundo ela, as fotos horrorosas são para não criar expectativas! Curiosas maneiras de vender que têm aqui em França… mas pronto… O lugar de estacionamento era bom, o Monsieur Monteiro ficou satisfeito, e disse que tinha de ir embora porque tinha um voo para apanhar. A senhora responde: mas tem um voo para apanhar ainda hoje? Então é melhor apressar-se. Ao que o Monsieur  Monteiro responde que o voo não parte sem ele. Ela não percebeu e respondeu que os voos por ela não esperam. 

Talvez depois de ter dito isto tenha percebido, até porque depois nos perguntou se o “bugêt” (que é como eles dizem budget) podia ir além dos 250k. Acho que no fim da visita já tinha percebido que talvez os pigmeus saídos da gaiola dourada estivessem mesmo a pensar comprar uma casa e não estivessem ali para a assaltar, ou assim… para lhe roubar as bijuterias…sei lá...

Ainda nos disse que há imensos portugueses naquela vilinha e que fazem imensas festas (e eu pensei que talvez ela não soubesse distinguir portugueses de espanhóis). Fiquei com a sensação que ela tem o poder de escolher os vizinhos, já que domina o mercado imobiliário da vila!

É duro ser português nesta terra… é para uma pessoa se relembrar o que faz aos imigrantes no seu próprio país...

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