Já tendo batido todos os sites do imobiliário e sabendo de cor
todos os anúncios de casas em Rungis, resolvemos ir pessoalmente à imobiliária
para ver se haveria algo que nos estaria a escapar. Infelizmente naquela
terrinha tipo oásis no deserto do balineau de Paris não há mais nenhuma
imobiliária e 90% dos anúncios estão com a que apelidei de “a imobiliária”.
Entrámos e a senhora faz aquele olhar de cima a baixo
reprovador para o casal de pigmeus portugueses acabados de sair da gaiola
dourada. Informa-nos que não tem tempo para nós porque está sozinha na agência
e tem uma visita às 15h (daí a 50 minutos!). Pergunta-nos o que é que
procuramos: preferência t2, com parqueamento coberto, condomínio barato e menos
de 250k. Resposta seca dela: não existe! Pois nós, que já batemos tudo, sabemos que existe, mas se
for para ela nos dizer que não existe não iríamos lá.
A custo lá nos sugeriu para marcámos para no dia seguinte ver um apartamento
de 250k que reunia todas as características. Afinal sempre existia. As fotos
eram medonhas, aliás como todas as fotos de imobiliárias que se vêm aqui
(felizmente algumas não se vê a sujidade, outras até isso se vê). Como ela nos
despachou e a visita era só no dia seguinte, resolvemos ir ver a localização da
casa. Era um R/C sem uma gracinha. Fotos tiradas de noite, casa toda partida
por dentro… pelo preço de uma vivenda fantástica em Palmela. Mandámos um sms a
dizer que nem queríamos ir ver. Fiquei com a sensação de que ela achava que
como éramos portugueses estaríamos super interessados numa casa cara, toda
partida, para poder realizar o sonho de fazer umas bricolages valentes, já que
o nosso pai terá certamente uma empresa de construção civil e as fará de bom
gosto (aguarda link para o post onde escreverei sobre este assunto).
2 dias depois caímos num anúncio da mesma imobiliária,
telefonámos: “Ah, Monsieur Monteiro!”. Fomos ver a casa e o Monsieur Monteiro
atrasou-se o que me fez ficar uns 3 minutos sozinha com a megera. Cada vez que
se aproximava uma carrinha branca ela perguntava se era o meu marido. Não
obstante, quando se aproximava um carro normal ela não tinha dúvidas que não
era o meu marido. Até que ela lá foi abrindo a porta e não viu o Monsieur
Monteiro a chegar na sua viatura vistosa.
Vimos a casa. Era jeitosa, apesar de não ter lavatório no
compartimento separado da sanita e ser preciso atravessar 3 divisões até poder
lavar as mãos, coisa infelizmente vulgar nestas paragens. Após observação,
certamente a primeira na carreira da agente, lá lhe foge a boca para o
pensamento e pergunta se não somos bons bricoleiros, porque normalmente os
portugueses o são, que podíamos perfeitamente instalar ali um lavatório
partindo umas paredes… enfim...
A casa era melhor do que as horríveis fotos demonstravam.
Segundo ela, as fotos horrorosas são para não criar expectativas! Curiosas
maneiras de vender que têm aqui em França… mas pronto… O lugar de
estacionamento era bom, o Monsieur Monteiro ficou satisfeito, e disse que tinha
de ir embora porque tinha um voo para apanhar. A senhora responde: mas tem um
voo para apanhar ainda hoje? Então é melhor apressar-se. Ao que o Monsieur Monteiro responde que o voo não parte sem
ele. Ela não percebeu e respondeu que os voos por ela não esperam.
Talvez depois de ter dito isto tenha percebido, até porque
depois nos perguntou se o “bugêt” (que é como eles dizem budget) podia ir além
dos 250k. Acho que no fim da visita já tinha percebido que talvez os pigmeus
saídos da gaiola dourada estivessem mesmo a pensar comprar uma casa e não
estivessem ali para a assaltar, ou assim… para lhe roubar as bijuterias…sei lá...
Ainda nos disse que há imensos portugueses naquela vilinha e
que fazem imensas festas (e eu pensei que talvez ela não soubesse distinguir
portugueses de espanhóis). Fiquei com a sensação que ela tem o poder de escolher
os vizinhos, já que domina o mercado imobiliário da vila!
É duro ser português nesta terra… é para uma pessoa se relembrar o que faz aos imigrantes no seu próprio país...