sábado, 17 de dezembro de 2005

Aventura em Marrocos

Três dias úteis de férias e lá vão duas malucas e um Twingo de férias para Marrocos durante 9 dias.

A viagem começou sexta dia 2 de Dezembro, rumo ao Algarve, onde dormimos.

No dia seguinte, e como o lema era descontracção, lá fomos em velocidade de passeio até Tarifa, onde iríamos apanhar o catamaran que nos levaria a Tanger, não sem antes conhecer o pior restaurante chinês de sempre algures não me lembro onde em Espanha. Assim foi. Apanhamos o das 17 horas (espanholas) e chegaríamos, pensávamos nós, segundo a publicidade enganosa, às 16:35 a Tanger (horas locais). Afinal a viagem, em vez de 35 minutos, durou 1 hora e 35 minutos, com alguns enjoos pelo meio, especialmente dos restantes passageiros, porque nós nos aguentamos bem à bronca. Chegadas ao Porto de Tanger tivemos os primeiros encontros imediatos com a fauna local que, muito solícita, se encarregou de nos tentar tratar de tudo mais rapidamente que aos outros turistas, apesar da bicha compacta ser impossível de demover e de eles estarem a tentar fazer o mesmo a todos os outros. Obviamente que isto nos custaria uns quantos euros, mas como eles não disseram o preço eu não paguei. Tive a primeira má reacção, com um rasgar da papelada, afinal, o que é que eu esperava, se eles se tinham fartado de trabalhar para me ir buscar um papel verde e até preenche-lo com a minha matrícula, não fosse eu não perceber francês.

Acabamos por sair do porto às 20 horas locais, com vontade de encontrar sítio onde passar a noite rapidamente. Primeira tentativa: pousada da juventude de Tanger. O mau aspecto da entrada fez abater sobre nós o espírito pequeno-burguês ® e felizmente havia um hotel muito jeitoso mesmo 2 portas abaixo por apenas o dobro do preço, por um quarto duplo com casa de banho. Ora que se lixe, também eram só 12 euros a cada uma!

O jantar na Pizza Hut terminou o dia caótico. Super típico, como se está mesmo a ver. E logo Pizza Hut, com as piores pizzas que eu conheço e que só me lembram noites de trabalho em Miraflores.

(Há que fazer aqui um enquadramento, a Andreia é vegetariana, portanto a escolha de sítios para comer fica um pouco mais limitada).

O dia seguinte foi bem mais agradável, com cerda de 12 horas de passeio por Tânger. É uma cidade grande e engraçada. Certas pessoas nos abordavam porque queriam ser nossos guias, dizendo que a cidade era muito perigosa e outras balelas do género. O fim do dia foi passado a passear pela marginal, seguido de chá de menta numa esplanada chiquérrima. Nós duas, juntas a alguns milhares de pessoas, famílias inteiras, carrinhos de bebé e afins, faziam parecer que estavam a dar alguma coisa na marginal, tal era a quantidade de gente. A praia, desde de manhã até à noite esteve sempre cheia de gente, a jogar futebol, a andar de camelo alugado, a molhar os pés ou simplesmente a caminhar. E é preciso ver que era Dezembro e estava um frio de rachar.Foi difícil encontrar uma refeição minimamente não fast food. Finalmente encontramo-la ao jantar num restaurante num beco escuro. Um restaurante simples com comida divinal.



No dia seguinte rumámos a Sul, para Chefchouen. É uma pequena vila perdida nas montanhas, de casas caiadas de branco e pintadas de azul até 1,5 metros de altura. Todas! Lembraria vagamente o Alentejo, se não se situasse nas montanhas! Almoçamos na praça principal, na esplanada coberta, enquanto chovia aquela chuvinha molha parvos desconsolante. Depois de almoço e uns quantos kilómetros aventurosos mais tarde (entre os 20 e os 30 km/hora na maior parte do caminho) chegámos a Meknés, essa bela localidade!

Arranjámos hotel e fomos dar uma volta. Meknés deve ser a cidade chique de Marrocos. Bem arranjada, limpa e cheia de gente bonita e bem vestida eram as características principais à primeira vista. No dia seguinte fomos descobrir um bocado de história. As suas muralhas do século VII, o mausoléu do mauzão que fundou a cidade para ser a capital do império no século XVII, a medina…Fizemos uma tatuagem de henna, fomos completamente confundidas com Marroquinas, quer pelos locais quer pelos turistas… enfim… É uma cidade muito agradável.



O dia seguinte foi passado a conduzir até Marrakesh. Foi desesperante a certa altura, quando o sol se começou a pôr, mesmo em frente aos meus olhos de condutora, na última recta de 200 km. Pensava eu que esta era a parte pior, eis se não quando percebi que à noite os carros, motas, motoretas, bicicletas, carroças, burros, pessoas e outros animais só tinham dois tipos de iluminação: máximos e sem iluminação. Ora isto dá imenso jeito numa recta com 200 km, em que uma pessoa consegue ser encandeada durante cerca de 4 horas em permanência. Cheguei a ponderar por os
Óculos de sol, mas assim não veria mesmo os restantes veículos, mesmo que estivessem a 10 cm do carro, os sem luzes. Até hoje espero não ter atropelado nada nem ninguém. Diz-se que se dá por isso, mas eu sei lá…

Chegámos a Marrakesh mais mortas que vivas. Claro que quando tudo corre mal, ainda falta correr mal mais alguma coisa e nunca mais encontrávamos um hotel decente por um preço decente. A primeira impressão era assustadora. Lá arranjámos hotel, comemos num fast-food cheio de baratas e fomos finalmente dormir.

O dia seguinte foi brilhante! A cidade cheiinha de poluição, 4 km pela frente até à medina, a pé, claro, que o carro era só para chegar às cidades. A medinha é fabulosa, com aquela praça Djema el Fna frenética desde manhã, mas especialmente à noite. Passamos o dia naquelas redondezas e não nos cansámos. Tínhamos muito onde descansar e especialmente… comer. Sumo de laranja natural e acabado de espremer, gelados, frutos secos, cus-cus, espetadas de borrego, beringelas, saladas variadas, peixe frito, mioleira, omoletes, sopa marroquina de lentilhas e tomate, chá de menta, até caracóis! Foi um dia gastronómico e com as habituais voltinhas pelos mercados. As compras foram poucas, música e bolinhos.



Mais uns km no dia seguinte nos separavam do destino seguinte: Casablanca. Eu não vi o filme, a Andreia viu partes, mas dizem que nada foi filmado ali. Casablanca, Casa para os amigos, é uma cidade enorme, a maior de Marrocos e eu atrever-me-ia a dizer que maior do que muitas capitais europeias. Demoramos 1 hora numa radial com 4 faixas para cada lado desde que começaram os prédios até ao mar, a velocidades entre os 60 e os 80 km/hora. Claro que as 4 faixas no nosso sentido eram transformadas entre 7 e 8, dependendo do número de camiões lado a lado, para desespero da Andreia, apesar de ser eu a conduzir.

O melhor, e o pior visto que não há mais nada para fazer no Inverno por lá, é visitar a maior mesquita do mundo, parcialmente construída sobre água, com fundo em vidro, e a única que pode ser visitada em Marrocos por não crentes. Dizem! Porque nós conseguimos acertar no único dia em que está fechada ao público, sexta-feira. De qualquer maneira é perfeitamente imponente a praça da mesquita, ainda incompleta e em construção e o edifício da dita. Parecíamos formiguinhas junto às portas. O candeeiro da entrada, que dava para ver do exterior, era muito maior que a minha casa! E o minarete, só o minarete, é muito maior que o meu prédio (12 andares) não só em altura como em largura e comprimento. É estrondoso, aquele local.

Dadas as confusões que tínhamos apanhado no porto à ida para Marrocos, decidimos rumar a Tanger e tentar apanhar o ferry um dia antes do que seria de esperar, sábado. Teríamos a nossa primeira aventura na auto-estrada em Marrocos. Pois, quem diria que seria tão emocionante: pessoas a atravessar, galinhas a debicar as ervas daninhas das bermas e do separador central, vendedores de fruta e ovos e, o mais emocionante, operações stop! Polícias no meio da estrada, de braço direito levantado e esquerdo para o lado, a mandar parar os automobilistas que se deslocavam a 120 km/hora no meio de tal barafunda, logo a seguir a uma curva perigosa (Curva perigosa numa autoestrada? Sim, e porque não?), pasme-se!

Depois de alguns km lá chegamos a Tanger às 14 horas. Havia barco às 14:30, logo decidimos arriscar a ir para o porto, sem sequer almoçar. Safamo-nos da inspecção rigorosa ao carro (o que não faz um sorrisinho de duas meninas a um bando de polícias), que no caso do carro à nossa frente incluiu desmontagem de várias partes do veículo e em 10 ou 15 minutos despachamo-nos da alfândega. O pior foi que nem barco das 14:30, nem das 16, nem das 17 nem das 18 nem… 19:30 mandaram-nos para outro local do porto. Liguei o carro e no rádio “mal tiempo en sur de España, ligaciones con Tánger interrumpidas”. Muy bien, pensámos, estamos… Não foi tão mau assim, porque depois de tanta espera lá nos embarcaram às 20 horas num ferry daqueles enormes, nada das paneleirices dos caramarans.

E lá fomos nós, rumo a sabíamos lá onde, esperávamos que ao menos fosse em Espanha. No barco, uper sobrelotado, conseguimos uma mesa e dei para aprender a escrever ao contrário! Não sei como ainda conseguia manter a boa disposição! Chegamos à 1 da manhã a Espanha e sem saber onde estávamos. Vimos uma placa a dizer Sevilha e outra Málaga e várias rotundas e obras depois lá estávamos numa autoestrada estranhíssima, encaixada em vales e com um vento que não se podia. Claro que àquela hora e sem comer (e é preciso ver que, para além da hora da siesta, os espanhóis também não gostam de trabalhar em estações de serviço depois das 23 horas) estávamos jeitosas para fazer 500 km, ou lá quantos eram, para o Algarve. E como se não bastasse, a gasolina ia-nos acabando, lá para as bandas de Vila Real de Santo António. Salvou-nos a senhora de um hotel, às 4 e tal da matina que nos disse que a bomba de gasolina estava fechada mas que dava para abastecer com Multibanco. Foi assim, como direi, o delírio! Fomos em piloto automático até Vilamoura, caímos na cama sem sequer tirar as coisas do carro. Já não podíamos com um gato pelo rabo quanto mais com as malas com rodinhas pelo elevador.

Dormimos até à 1 da tarde de domingo, preguiçámos na marina à tarde, comi a maior sandes de carne assada da minha vida.
E voltamos para casa com isto tudo para contar!

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